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Brasil perde chance de reparar injustiças históricas com povos indígenas


Eventual aceitação da tese do Marco Temporal legalizaria toda barbárie cometida contra os povos indígenas ao longo dos últimos 500 anos

Na noite do dia 24, a Câmara dos Deputados aprovou o requerimento de urgência do Marco Temporal das Terras Indígenas. A matéria, aprovada por 324 votos a favor e 131 contrários, tem previsão de ser votada no plenário nesta semana. Trata-se de mais um retrocesso para o meio ambiente e para os povos indígenas.

De acordo com Danicley de Aguiar, porta-voz do Greenpeace Brasil, o país perde, mais uma vez, a chance de reparar historicamente as injustiças cometidas com os povos indígenas: “No mesmo ano em que conquistamos a primeira ministra indígena da história do país, retiramos das mãos dos indígenas o poder de decidir sobre as suas próprias terras. Se for aceita, estaremos diante da legalização de toda a barbárie cometida contra os povos indígenas nos últimos 500 anos”.

Impactos de uma eventual aprovação do Marco Temporal

A tese do Marco Temporal é uma ficção jurídica que tenta inviabilizar a demarcação de novas Terras Indígenas, distorcendo a Constituição Federal que reconhece o direito dos povos indígenas aos territórios que tradicionalmente habitam. Os defensores dessa manobra, afirmam que só poderiam reivindicar o direito à demarcação de seus territórios os povos indígenas que já estivessem ocupando o território no momento da promulgação da Constituição Federal de 1988. Uma eventual aceitação desta tese, além de trazer profunda insegurança jurídica para o reconhecimento e demarcação das terras indígenas, aprofundará ainda mais as desigualdades e violências cometidas contra os povos indígenas no Brasil.

Para os povos indígenas, cada dia sem uma decisão do STF é mais um em que são forçados a conviver com grileiros, madeireiros e garimpeiros, e obrigados a assistir a destruição de seus territórios tradicionais. Ainda que seus defensores insistem em tratar esse tema como só mais um projeto de lei sem graves implicações, para os povos indígenas é um assunto vital, pois coloca em xeque a sua sobrevivência física e cultural”, finaliza Danicley de Aguiar.


Governo em crise?

A própria ministra Sônia Guajajara recordou em posicionamento publicado no site do ministério dos Povos Indígenas que Lula levou a pauta indígena para o centro de sua campanha eleitoral, em 2022. "Agora nós vemos este Congresso promovendo um verdadeiro ataque, num país que levou 523 anos para reconhecer a importância dos povos indígenas e menos de cinco meses para tentar nos calar e tutelar novamente", afirmou.

Lideranças indígenas cobram do presidente Lula empenho para reverter a decisão que retira do ministério dos Povos Indígenas a demarcação de terras indígenas e transfere para o Ministério da Justiça.

"Lula, por estar acuado com pautas de interesse do governo, abriu mão de questões importantes do meio ambiente e dos direitos indígenas, como forma de negociação. É um retrocesso e irresponsabilidade", afirmou Beto Marujo, membro da Coordenação da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

Se a Medida for aprovada, o Ministério dos Povos Indígenas será uma instância do governo "sem nenhuma efetividade".

Foto: Tuane Fernandes

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